achei que pudesse reler certas coisas e continuar imóvel. Errei. Tudo permanece o mesmo. Tudo é o mesmo, como se nunca tivesse deixado de ser nem por um segundo. Cada palavra se move com a mesma violência e causa o mesmo impacto, que começa quando o coração dispara, atravessa todo o corpo como um raio e se projeta até às extremidades, promovendo tremores nas mãos, que se contorcem na ânsia de aprisionar o amor entre elas e jamais permitir uma fuga, mesmo que supostamente consensual. Achei que eu tivesse aprendido, que eu tivesse conseguido ver imparcialmente, de forma não passional. As releituras mostram algo novo, mas não contrário, mostram a mesma direção. Ao que parece, mais serena, porém mais contundente, mais fiel ao que representa. E não me preocupa se há silêncio, se há ausência, se há medo. Não há certeza e isso também não gera qualquer susto. É como se eu soubesse, mas negasse por proteção ou orgulho.
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. (Clarice Lispector)
maio 05, 2008
re-leituras
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