maio 05, 2008

re-leituras

achei que pudesse reler certas coisas e continuar imóvel. Errei. Tudo permanece o mesmo. Tudo é o mesmo, como se nunca tivesse deixado de ser nem por um segundo. Cada palavra se move com a mesma violência e causa o mesmo impacto, que começa quando o coração dispara, atravessa todo o corpo como um raio e se projeta até às extremidades, promovendo tremores nas mãos, que se contorcem na ânsia de aprisionar o amor entre elas e jamais permitir uma fuga, mesmo que supostamente consensual. Achei que eu tivesse aprendido, que eu tivesse conseguido ver imparcialmente, de forma não passional. As releituras mostram algo novo, mas não contrário, mostram a mesma direção. Ao que parece, mais serena, porém mais contundente, mais fiel ao que representa. E não me preocupa se há silêncio, se há ausência, se há medo. Não há certeza e isso também não gera qualquer susto. É como se eu soubesse, mas negasse por proteção ou orgulho.

Às vezes chego perto demais do espelho, mas não vejo o que se mostra ou o que deveria mostrar. Vejo rugas e cabelos brancos e olheiras: sinais do tempo e das noites em vigília e esqueço de fitar a boca que sorri e os olhos que acolhem. Essas são as melhores partes e nunca as reconheço. Recuo e agrido quem se aproxima a um passo, como um cão. Sim, não mordo, mas toda a intenção se reveste de vontade. Penso que é simples e minhas lembranças se projetam naquilo que supunha passado, mas se mostram aqui, na frente, ao alcance.

Nenhum comentário: