janeiro 15, 2010

discurso sem voz

As palavras têm saído em sussurro quase mudo. Acompanham o ritmo da vida presente, os sons presentes: baixos, graves, talvez no sentido de não despertarem nenhum vulcão, nenhuma tormenta que em outro tempo jorrava sons ásperos e nocivos. Elas têm aparecido assim: amiúde. Sem pressa de dizer coisa alguma, sem vontades de se fazerem notadas, como criança que faz das suas trelas e silencia para não sofrer reprimenda e depois sorri matreira pelo sucesso alcançado. Surgem como pétalas embebidas no orvalho, sem divagações, sejam elas óbvias ou apuradas. Apenas são palavras que dizem o momento, sem pretéritos, sejam eles perfeitos ou não.

As palavras despontam em cores que acalmam na tentativa de tingir de paz as cores escuras lançadas sem aviso num dia que se foi, na tentativa de dar vida às paredes desbotadas que surgiram como herança.

– E se o passado voltar e me pegar de surpresa?... Questionou um amigo. Não! Isso não é possível. Apesar da palavra em voz suave, tenho ouvidos e olhos atentos. O que foi permanece exatamente onde está: atrás, fatigado, inacessível.

As palavras sussurram e eu ouço e sorrio.