abril 28, 2009

inverno

partiu como se fosse pássaro a fugir da invernada, súbito, em direção ao sol suposto no horizonte ainda escuro. Era uma noite úmida de abril, com o frio causando tremores à carne dura. Deixou migalhas do jantar e um pequeno cobertor de penas, simulando um agasalho. Deixou olhos desbotados, inundando a imensa noite apagada. Deixou deserto e solidão. Deixou uma voz rouca, simulando o silêncio e não olhou para trás vez nenhuma. Seguiu. Sumiu. Partiu desprendido, leve como uma folha de outono, que se joga ao chão, certa da maciez oferecida pelo orvalho.

Veio a manhã e persistiu o som mudo, a voz rouca. Manhã iluminada por um sol tímido, encoberto por nuvens pesadas, que não tardaram a se derramar do alto, criando uma paisagem cinza e comovente. Criou-se um aspecto de desamparo nas coisas, reforçado pelo visão turva do olhar abandonado, na noite do outono, que precedeu o inverno da alma.

abril 09, 2009

direção

há o que sou
E o que sei.
Sou duplo,
Um conheço
Outro, onde?
Dize-me!
Faze-me o dois
que componho