novembro 16, 2007

seis letras

hoje amanheceu com neve na janela, frio úmido e aconchegado. É impossível desconforto a qualquer temperatura, se teu abraço foi o esconderijo noturno. Por isso a neve, mesmo com 40 graus lá fora. O dia surgiu traduzindo todas as cores, revelando-se luz. E eu não quis dizer nenhuma palavra, pois nenhuma expressão, em qualquer língua, alcançaria a ternura e eternidade daquele sentimento percebido na tua pele, que transpirava amor. E o teu sorriso me arrebatou. Bom dia!

Saí sem pressa de casa. Deixei o carro na garagem e andei pela rua oposta. Vi borboletas no trânsito, enfeitando os sinais. Vi teu rosto em cada esquina. Cada sopro do vento me preenchia com teu perfume. Vaguei flutuante, repetia poesias, cantarolava músicas que há muito estavam encaixotadas num porão da memória, esperando alguém que as fizessem despertar. Você as trouxe a minha boca, você deu o tom e a voz, admitiu rimas, norteou compassos.

A meus dentes não foi permitdo o anonimato. Todos os viram. Todos compreenderam como se desenha um sorriso bobo, desses que não se apaga, desses que não se copia, apenas se identifica, se reconhece e se deseja igual. Rabisquei um poema, pretensão de contar o amor, de ofertar o amor em versos. Mas hoje a única forma que teria de fazer um poema, seria descrevendo você, poesia concreta.

novembro 07, 2007

incidental

e a prova de que não era uma paixão tola é que meu coração formava meu espírito.

jean-jacques rousseau

mar aberto

eis o dia!

Quis tua voz... e eu a tive! O que queria falar se tornou irrelevante.

“será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração... fui escolhido pela menina mais bonita”

Não importa se sou prolixa, se me equivoco, é você o beijo em minha alma... começa em meu pescoço e, nesse exato momento, eu perco as palavras, mas que não faz a menor diferença, pois sei que tudo que balbucio você compreende. Mas eu não sei dizer tudo que quero dizer, eu não sei como expressar tudo que eu sinto quando você me olha, quando você me toca. Eu rabisco um verbo. Mesmo sem te ver, penso em você e tudo fica azul e amarelo. E eu não consigo disfarçar. Todos encontram poesia em mim e me perguntam como é possível ser feliz às 7h, em plena segunda-feira. Não há resposta, há você e o mundo parece outro, sendo o mesmo. O dia fica claro e leve, não importa o que diga a meteorologia. Tangencio sentinelas. Por que precisão? Preciso de nada, tendo teus olhos. Até a dor sorri nessa alegria de mar.

Tudo vai durar. Tudo certo. Eu sei. Não importa a distância. Nesse exato momento, real ou circunstancial, não importa nem mesmo o silêncio. Mas não precisa calar, fala-me de você. Ouça nossa música. Quem poderá ter essa trilha sonora além de nós? Ouça o mar e se não há, sinta a brisa!! Olha a lua. É tão tua. Sorri. Sorri pra mim. Somos você e eu!

novembro 02, 2007

fora de ordem

atividades dispersas num dia celebrado aos mortos. Fogo morto, tempo morto. Há alguma coisa aqui que destoa do ambiente... tum tum... Ah! Um coração. Se o que define a transposição entre o lado de cá e o lado deles, hoje lembrados, é o pulsar sem fim desse músculo, deduzo que existe vida. Meu coração é teu ou meu coração ateu? E me vejo voltando ao discurso da saudade. Sinto saudade de ontem, pra amanhã sentir saudade de hoje. Saudade do que fiz e do que não fiz. Saudade pura. Tem uma pontinha de masoquismo em nós que nos projeta a esse ambiente de memórias. O pensamento perambula buscando resquícios dos dias idos, dos dias em que tudo que eu sabia de você era construído em bytes. Todas as cores do nosso amor podiam ser escolhidas e editadas: ‘ah, mas esse amarelo é muito aberto...; não sei se digo que te amo em times ou em verdana, em negrito ou em itálico...’ E teu rosto era bidimensional. Teu sorriso estático, apesar da sua melodia inconfundível, que os recursos de áudio da Embratel me permitiam ouvir. Lembro ainda da letra harmoniosa, num papel branco, quando nos permitimos pintar o jogo da fala da tinta. E como esquecer a primeira vez que ouvi de tua boca, lançado como uma flecha em minha direção, o termo usual dos amantes? Fiz esse mesmo sorriso amarelo que repito agora, como em todas as vezes que ouço de ti a mesma fala. E me vejo tecendo essa história e recriando espaços, refazendo a casa, depurando os dias. Há alguma coisa no amor que escapa de qualquer compreensão plausível. Eu perco o sono e o chão. Eu ouço o telefone tocar a cada dois minutos. Eu ouço tua voz no corredor e ‘eu não sei onde estás, nem com quem’.

..............................................................................

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)


tenho medo


que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes


eu levo o seu coração, eu o levo no meu coração


e.e. cummings

novembro 01, 2007

monólogo

eu amo você