novembro 10, 2008

intimidade ou para uma flor com nome

não há verbo que transfira a rota que me leva ao teu abrigo, não há direção mais desejada, pois desde que deixei a casa, o conforto e me pus nessa trilha, meus sentidos ficaram mais livres. Dei pra me demorar olhando pequenas folhas orvalhadas na beira do caminho, que refletem o sol e iluminam a estrada. Cada passo se reveste de alegria e cansaço é só uma teoria que aguça a poesia do descanso em teu abraço. O calor e o suor são lembranças e desejo do que existe em nosso encontro, que arrepia a pele, que tremula cada músculo e contorce o corpo, quando esses teus carinhos lânguidos me percorrem por dentro e por fora e transpassam a noite e criam mais estrelas no céu e tua língua as põe na minha boca e acariciam a minha alma. Tuas mãos me enternecem e me fazem grudar em tua pele. Nessas horas não sei ao certo se me perco ou se me encontro, não sei o que em mim é teu, nem o que em ti sou eu. E os dias amanhecem com aroma de flores silvestres e com o gosto do amor, que tem a tua saliva.

novembro 07, 2008

sobre o dia

nessa história, nada é gratuito ou dispersão, nenhum momento se repete ou se anula, nem mesmo a dor corrompe qualquer instante. O tempo é aliado e a noite guardiã da pétala dessa flor que atende por seu nome. É amor!

novembro 04, 2008

o armário de Platão

a mais contundente afirmação alegórica no ideal platônico da ascensão das trevas à perfeição, pode ser transliterada aos vários aspectos dos aprisionamentos aos quais nos entregamos. Soltar as amarras não é o mais difícil. Diga-se à parte, inclusive, que este é o momento mais óbvio. Trabalhoso mesmo é reconhecer a prisão. Mas a partir do momento que se detecta a corrente, torna-se possível o desejo do desvencilhar-se dela.

Sair da caverna, do buraco, do armário, da cela, do conforto após reconhecer o acorrentar também não é por si só o fardo da jornada. Difícil mesmo é querer-se livre, é suportar a luz, é aceitar-se senhor ou senhora dos próprios passos.

Não sei se Sartre considerou a dor quando postulou que somos/ estamos todos condenados à liberdade, mas certamente Pessoa a tinha em mente quando arremessou a pergunta: "Ah, que há de me salvar de existir?"

Você e eu somos livres. Por isso eu te amo e percebo o teu amor. E a ignorância já não nos pertence, pois a dor nos desperta e esse amor nos alivia.