novembro 04, 2008

o armário de Platão

a mais contundente afirmação alegórica no ideal platônico da ascensão das trevas à perfeição, pode ser transliterada aos vários aspectos dos aprisionamentos aos quais nos entregamos. Soltar as amarras não é o mais difícil. Diga-se à parte, inclusive, que este é o momento mais óbvio. Trabalhoso mesmo é reconhecer a prisão. Mas a partir do momento que se detecta a corrente, torna-se possível o desejo do desvencilhar-se dela.

Sair da caverna, do buraco, do armário, da cela, do conforto após reconhecer o acorrentar também não é por si só o fardo da jornada. Difícil mesmo é querer-se livre, é suportar a luz, é aceitar-se senhor ou senhora dos próprios passos.

Não sei se Sartre considerou a dor quando postulou que somos/ estamos todos condenados à liberdade, mas certamente Pessoa a tinha em mente quando arremessou a pergunta: "Ah, que há de me salvar de existir?"

Você e eu somos livres. Por isso eu te amo e percebo o teu amor. E a ignorância já não nos pertence, pois a dor nos desperta e esse amor nos alivia.

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