setembro 25, 2007

ao meu amor, que dorme

nesta noite de poucas estrelas
me apaixonei
por teus olhos
e agora já não sei
como perdê-los de vista

(...)

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

paulo leminsk

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Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

pablo neruda

lilitchka!

em lugar de uma carta

Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto –
Um capítulo do inferno de Krutchônick.
Recorda –
Atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração – aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado, tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
– duro fardo por certo –
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
Ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum um som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
e não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com o seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos
– rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos teus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?

Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

Maiakovski

setembro 24, 2007

calmaria


Tens no meu sorriso tua agonia
Tens a festa, tens a dança, tens a cantoria
Tens no meu amor tua teimosia
Tens no meu silencio tua garantia
Tens na rua a graça, o beijo
Tens a fantasia
Tens na mão a faca e o queijo
Tens a noite e o dia
Tens na minha ausência tua companhia
Tens a fama, tens a lama, tens a ironia
Tens na minha dor tua melodia
Tens na minha sombra tua moradia
Tens no quarto um cão vigia, tens a valentia
Mas só na minha morte então terás tua calmaria


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tens (calmaria), ronaldo monteiro e ivan lins