abril 06, 2007

eu preciso dizer que te amo

trata-se de uma doação. Há muito menos aqui do que desejado, mas não sei se tanto mais a ser dito. Repito-me. Perco-me. Falo de amor e saudade e saudade e amor, com uma leve pitada de dor, como é próprio dos românticos. Trata-se de um guia, ou um mapa de retorno... retorno ao que alimenta de leveza e consistência, de claro e sombra, de amor e dor (há algum antônimo pra amor? Temo que não. O amor faz-se contrário a si mesmo... princípio e fim, ‘avesso do avesso’).

Trata-se de um sussurro. Um gesto incontido. Um beijo no escuro... se esqueço a forma adequada de expressar um fato qualquer, é por que não existe manual. Não há bula. Não existe um resumo sequer. Esforço-me em falar sem peso sobre essa aflição desajeitada, equivocada tantas vezes, que atende por vários nomes. No meu caso, prefiro atribuir-lhe a alcunha mais óbvia: amor. Mas qual o melhor epíteto para tão notável beleza? Teu nome!

Trata-se de um bilhete escrito às pressas. Desejaria ser daqueles que se interpõem entre lados opostos de um mesmo lado e desfazem viagens e param trens e pacificam corações.

Trata-se de um projeto (um esboço talvez seja o termo adequado), cuja proposta é dizer eu te amo.

abril 03, 2007

nalgum lugar

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo igual
ao poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fechae abre;
só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

e. e. cummings

abril 02, 2007

de perto ninguém é normal

o delírio é uma tentativa de cura, de reconstrução. O sistema delirante é, na verdade, um sistema de sobrevivência.

freud