julho 31, 2008

o templo


esqueci de lembrar do começo. Talvez fizesse referência aos vitrais da igreja no meio do parque. Pequenina e imponente, jovem para um templo, jovem nesse tempo, mas de paredes contorcidas, contrárias à arquitetura atual, que prima pela retidão dos traços, que se levanta do chão como um espigão querendo tocar o céu, sem desenhos ou cores. Esqueci de lembrar o motivo, que era o começo, mas no início era o verbo.

Esqueci mesmo o que falar e agora já não há o que seja dito sobre os vitrais ou sobre o monumento ou sobre o templo ou sobre a crença ou sobre a fé. O olhar pela janela se tornou o principal recurso de comunicação: mudo, em silêncio agudo, sem medo nem expectativa. Contemplando, sensibilizando meus ouvidos e cada som diz mais que o aparente e mesmo o que silencia fala. Nada parece certo, mas nada está fora do lugar e tudo se harmoniza dentro do que parecia improvável. E aos poucos o beijo vai se tornando doce e a pele se reveste de calor e acolhe, sem perguntas, em completa abstração do que foi ou do que seria.

julho 28, 2008

I wish...

I wish you bluebirds in the spring
To give your heart a song to sing
And then a kiss, but more than this
I wish you love
And in July a lemonade
To cool you in some leafy glade
I wish you health
But more than wealth
I wish you love

My breaking heart and I agree
That you and I could never be
So with my best
My very best
I set you free

I wish you shelter from the storm
A cozy fire to keep you warm
But most of all when snowflakes fall
I wish you love
But most of all when snowflakes fall
I wish you love

albert beach e charles trenet

julho 25, 2008

julho 15, 2008

um olho na escuridão


quando teu olho surge no meio da noite, algo em mim paralisa. E imóvel, prendo-me a esse instante como se fosse o último em que teria a tua imagem. Mas aos poucos os dias amanhecem, um a um. Aos poucos a poeira do caminho vai lavando a tinta que nos marcou nos dias idos, estejam eles próximos ou distantes na folha do calendário. Habilmente, o desejo se controla (ou se redireciona) e traz harmonia às batidas do coração, traz sossego às noites, traz calor às cobertas. É como se tudo se revestisse de calma. E o perfume retorna às flores, a luz retorna ao sol, o brilho, à lua. Embora eu saiba que tudo sempre esteve no seu lugar, embora eu compreenda que o embaraço e a indiferença eram meus. Contudo, o amor não foi transferido de categoria, nem poderia. Apenas reservei um espaço maior em meu peito, pra que ele não se lance contra as paredes, para que não sofra, para que eu não sofra. A calma resulta de aprendizado, que confere controle, que leva à reclusão, que supõe distância, que traz saudade, quase sem dor.

Quando teu olho surge no meio da noite, posso criar quantas histórias eu queira, mas algo em mim paralisa. Recuo, encosto a cabeça, reclino a cadeira e olho o céu, olho a cidade e suas luzes frágeis, diante do clarão desse olho, que me olha e não me vê. Prendo-me a esse instante, como se fosse o último. Perco-me nesse instante, como se fosse o primeiro. Acho-me nesse instante, como se fosse sempre. Abandono esse instante para que seja sempre o mesmo a cada nova vez. Quando teu olho surge no meio da noite, eu não vejo mais nada.

julho 06, 2008

um mesmo olhar

o dia foi incerto, como a noite que o viu nascer. E os instantes que anunciam o novo quadro noturno, que adentra a casa, parecem marcados com os mesmos atributos das últimas 24 horas. Olhos abertos, toda atenção aos movimentos. Sensação de frio que, em geral, se acentua com o som que nasce da chuva, quando as gotas amortecem a queda na folhagem das árvores mais altas e deslizam suaves até o chão, molhando a escuridão. Há olheiras na retina, há cansaço nos pés, há fadiga no peito, mas as flores perfumaram o dia e alegraram o canto dos pássaros, nos curtos momentos em que o sol saiu do silêncio e abraçou o céu. Não busco um perfil ou diagnóstico para esse tempo, apenas pretendo viver cada segundo que se apresenta com a máxima intensidade, como se o futuro não existisse, como se o passado fosse memória de um lugar perdido, sem relação com o agora. Por isso esqueço os sinais da retina e do resto do corpo, e abro o peito para o perfume da rosa que desabrochou naquele segundo de luz e que devorou cada molécula em mim.

O dia foi incerto, mas não quis certezas, quis mesmo esse devaneio, essa utopia de saber-me sendo um arauto de um amor encantado e que se anuncia sutil, por entre gestos e canções.

julho 04, 2008

hoje não é um dia de palavras. Nada que pudesse dizer atingiria a realidade do que em essência nasceu em mim

julho 03, 2008

por trás do som

o que está impresso no verso das palavras polidas parece ser mais denso e doloroso do que aquilo que é posto como estampa nas conversas, em detrimento ao meio em que elas se dão. Não espero nada além daquilo que vem de mim. Esperar do outro é como esperar estrelas cadentes, sugere sorte, mas não se sabe ao certo porque as vimos. E eu me sinto uma pluma, mas plumas embebidas não flutuam e sugerem peso, mesmo quando isso não representam.

As estrelas se movem no escuro e eu as perco no momento exato em que focalizo o breu, ao invés do ponto cintilante. Parece que a lucidez se perde quando chega a noite, parece que as forças minguam quando sopra o vento, e os ossos doem e a pele arrepia e vem o medo do que já se reconhece inofensivo... mas à noite, ah, a noite! A noite entorpece o que é sano e degrada a leveza das coisas. Por isso o vinho, por isso a música, por isso o livro, por isso as pessoas: pra dissipar o nevoeiro que se coloca à frente dos olhos e simula proteger do escuro.

Mas ainda acredito no que é doce e suave e leve. Ainda acredito em mim, ainda acredito que posso voar. Até quando? Até agora, até todo presente que for presente.