julho 06, 2008

um mesmo olhar

o dia foi incerto, como a noite que o viu nascer. E os instantes que anunciam o novo quadro noturno, que adentra a casa, parecem marcados com os mesmos atributos das últimas 24 horas. Olhos abertos, toda atenção aos movimentos. Sensação de frio que, em geral, se acentua com o som que nasce da chuva, quando as gotas amortecem a queda na folhagem das árvores mais altas e deslizam suaves até o chão, molhando a escuridão. Há olheiras na retina, há cansaço nos pés, há fadiga no peito, mas as flores perfumaram o dia e alegraram o canto dos pássaros, nos curtos momentos em que o sol saiu do silêncio e abraçou o céu. Não busco um perfil ou diagnóstico para esse tempo, apenas pretendo viver cada segundo que se apresenta com a máxima intensidade, como se o futuro não existisse, como se o passado fosse memória de um lugar perdido, sem relação com o agora. Por isso esqueço os sinais da retina e do resto do corpo, e abro o peito para o perfume da rosa que desabrochou naquele segundo de luz e que devorou cada molécula em mim.

O dia foi incerto, mas não quis certezas, quis mesmo esse devaneio, essa utopia de saber-me sendo um arauto de um amor encantado e que se anuncia sutil, por entre gestos e canções.

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