julho 31, 2008

o templo


esqueci de lembrar do começo. Talvez fizesse referência aos vitrais da igreja no meio do parque. Pequenina e imponente, jovem para um templo, jovem nesse tempo, mas de paredes contorcidas, contrárias à arquitetura atual, que prima pela retidão dos traços, que se levanta do chão como um espigão querendo tocar o céu, sem desenhos ou cores. Esqueci de lembrar o motivo, que era o começo, mas no início era o verbo.

Esqueci mesmo o que falar e agora já não há o que seja dito sobre os vitrais ou sobre o monumento ou sobre o templo ou sobre a crença ou sobre a fé. O olhar pela janela se tornou o principal recurso de comunicação: mudo, em silêncio agudo, sem medo nem expectativa. Contemplando, sensibilizando meus ouvidos e cada som diz mais que o aparente e mesmo o que silencia fala. Nada parece certo, mas nada está fora do lugar e tudo se harmoniza dentro do que parecia improvável. E aos poucos o beijo vai se tornando doce e a pele se reveste de calor e acolhe, sem perguntas, em completa abstração do que foi ou do que seria.

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