maio 11, 2008

a noite de um dia

palavras desarticuladas num consenso tupiniquim - de brasileiro mesmo, sem conotação vil ou jocosa - entre o amor e a razão, me fazem pensar se em algum momento eu amo ou amei racionalmente. Eu amo porque essa é a essência última dos seres, porque é divino... Não, acho que amo mesmo sem pensar. Pode ser que o tempo me ajude a transcender e vire essa nau na direção de outro porto mais observador. Por enquanto, amo pelo que sinto nesse estado de confusão dos sentidos. Amo porque pareço maior, cresço em tamanho e cor, ao mesmo tempo em que o peso das coisas escorre através de mim, pois o peso só é percebido se sustentado, se erguido. Permito, ao que se aproxima e se coloca nos ombros, uma transliteração, e todo fardo se transforma em orvalho. Devagar, vou permitindo a impregnação de tudo que é presente, sem esperas. Pois creio que tudo chega, à revelia da ansiedade.

E tudo flui, sem impacto. Tudo atravessa considerando essa linha móvel, que tudo impulsiona, mesmo quando inerte, que tudo ultrapassa, sem transgredir, sem criar nós, sem embaraços. Mas tudo pára, impactado no abraço desses braços e energiza a pele embebida nessa carícia, que sorve através dos poros. E não há razão que proponha elucidação a este encravar de corpo e de alma, que se lança em dança lenta, em calor e frio e arrepio. Tudo pára, menos os braços e pernas e lábios. Tudo pára, mas há voz, que derrama o gozo poético, que, sim, faz meu estilo. Tudo pára, menos os cheiros que se misturam e perfumam a cama, o quarto, a casa. Tudo pára e silencia. E no silêncio a respiração dos corpos, que enlaçados, não se sabem início ou fim por eles mesmos.

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