maio 01, 2008

maio

não há como esconder o óbvio, ao mesmo tempo ele é sempre mais difícil de ser enxergado. Provavelmente se morássemos no fundo do mar, a última coisa da qual nos daríamos conta seria a água. A práxis leva ao mecanicismo, que desbota a cor das coisas, que paralisa o movimento, que emudece a fala. Mesmo que os tons, a cinética e a voz permaneçam, fica tudo tão impregnado do mesmo, que desaparece, como mágica. Torna-se invisível, indizível, quase como se não estivesse lá. Por isso os olhos atentos. Quero perceber cada detalhe da mesma cena que se projete dia após dia. Quero ver como nova, cada paisagem antiga. Quero reconhecer novas harmonias em cada velha canção, que já nem toque no rádio e que se apresente sem a limpidez polida dos sons digitais, que venha com o ruído da agulha no vinil, que me desperte para o que não parece inédito, para que eu possa me apaixonar a cada instante pela mesma idéia, pelo não-outro, para ver o novo, no que já é conhecido.

Não há como esconder o óbvio que existe em mim, não há como re-mover o que já impregnou o que reconheço como sendo eu. Por isso você não me vê, mesmo assim, mesmo perto, mesmo maio.

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