março 26, 2008

teoria das entrelinhas

carinho de maré é lua cheia e despretensão é sempre um discurso contundente, quando o assunto é o olhar do outro. Soa mais poético, romanesco, há uma certa admiração ingênua. Não há qualquer tipo de prerrogativa, não há qualquer tipo de intervenção, não visível ao menos. Constrói-se no fluir calmo das ondas remadas pelo vento. Começa como tudo que se planeja mitificar para engrandecer: ao acaso, mas considerando um caminho desde sempre posto, esperando o seguir; afinidades antigas, olhares reconhecíveis ao longo das eras, vínculos da idade do calendário. Como em toda boa história de relações amorosas, graceja-se essa casualidade, permeada por uma atemporalidade, que eterniza o momento e admite-a como verdade inquestionável, rejeitando-se a negativa contradita de que se pretendia ser.

E posso olhar nos olhos, posso sugerir qualquer outro roteiro, nenhum será significante, nenhum pousará tão perfeito, quanto o que se põe sem o desejo criador prévio, sem a idéia que principia. Mas pelo menos fica a teoria subentendida, essa coisa de argüir, suspensa em meu comportamento insensato, inoportuno, desmitologizante, quase inquisidor. Contudo não pretendo respostas. Sou também despretensiosa nos meus rodeios, quase imperceptível. E não espero, em absoluto, provocar qualquer efeito, não aspiro ser causa. Mas não posso negar que minha retórica sim é desprovida de qualquer manha astuciosa, reafirmo sua ingenuidade. Ela foi pensada apenas no sentido de suavizar as armadilhas postas, quem dera, pelo destino.

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