ainda bem que a minha consciência me permite distanciamento, abstração, heterogeneidade. Não sou a única pessoa do mundo, mas sou a única a ser eu mesma. Sou o que se pode chamar de inédito e ainda assim ser possível ser novo de novo todos os dias, como o sol que toda manhã surge o mesmo, mas sem impressão similar antes. Ainda que o figurino se mantenha, ainda que o pensamento ordinário se eternize, se solidifique, todo o resto é névoa mutante. Mesmo que me enraíze e creia-me imparcial ao tempo, há de chegar o momento em que, com espanto, será dito, talvez com descompassada ironia: tudo está diferente, sendo o mesmo. E é essa conjunção de dois lados ímpares que me permite de dentro ver todo o mundo de fora, ao mesmo tempo em que o mundo de fora, mesmo sem me enxergar por dentro, promove as mudanças que levarão meus olhos a ver tudo com novas cores.
O presente é um suspiro apressado entre dois momentos inatingíveis, quiçá inexistentes. Por isso o doce e amargo da compreensão do que é, a droga que cura e envenena: É! e neste exato momento em que termino estas palavras, foi! Ainda bem que tenho memória consciente que me permite esquecer o que foi e não devia, projetar o que não será e eu queria.
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