zumbido de abelhas estraçalhando o silêncio flutuante do passado. 'Vamos, acorde! O padre já vai celebrar a missa...' 'Que missa? Hoje nem é domingo!' Conto de fadas nordestino: a mocinha em seu vestido rosa-flor, com perfume de laranjeira e duas tranças no cabelo, presas por fitas brancas de cetim. Na memória, encontro marcado: missa matinal, na capela da cidade. As palavras do sacerdote terão conotações várias, e ela se colocará na posição de obediência aos ritos, de risos sobre os ritos, até o momento em que haverá ausência absoluta da percepção da voz do vigário.
O amor é igual em qualquer contexto. Na balada da cidade grande; no bailinho da cidadela esquecida entre os montes; nos bares, que acolhem segredos de fins de tarde; nas calçadas das cidades históricas; nos shoppings climatizados e hostis; nos consultórios de psicoterapia; nas salas de aulas infindáveis; nos leitos hospitalares; no silêncio dos museus; nas salas de projeção; nos quartos de penumbras e sussurros. Desmerece traduções, desconsidera interpretações. Diga-se amor e eis que se formulam tratados. Iguais em essência, repetitivos e trágicos.
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. (Clarice Lispector)
março 03, 2008
tratados e armadilhas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário