abril 27, 2008

rua do caminho sem fim

outro dia pensei sobre a brevidade das coisas. Pensei nas ruas que percorri com pés pequenos, passo miúdo, em tempos bem anteriores. Pensei em quantas vezes sentei embaixo de árvores sem me dar conta disso, era tão natural, tão sem propósito. Foi nesse cenário que folheei meus primeiros livros de uma coleção de literatura infantil, que uma irmã comprara de um livreiro ambulante. Eu os li e reli tantas vezes, que já não precisava olhar para as páginas. Eram poucos títulos: um falava sobre um indiozinho amazonas, outro sobre a viagem desse indiozinho pelo Brasil e um outro de um pequeno bandeirante... era quase um curso de história do Brasil, vejo assim agora. Depois vieram gibis e outra coleção infantil. Depois Cecília Meireles e Drummond e Augusto dos Anjos e Florbela Espanca e Vinícius de Moraes e José Lins do Rego e João Cabral de Melo Neto e Mário de Andrade e Manuel Bandeira e foram e são tantos... e veio Maiakóvski e Clarice e veio o que sou, o que me tornei, o que me transformo a cada dia, breve, levemente breve, como as coisas.

Os dias eram longos e os anos intermináveis. Não havia tanta pressa. E me pergunto se aquela casa de janelas azuis, que se abriam em varandas, ainda existe, se abriga alguém. Lembro do Leão, fiel cão vigia. Lembro-me onde foi sepultado. Lembro da quantidade admirável de canários amarelinhos que pousavam despreocupados pelas árvores, pelo telhado, na antena, na cerca que me separava do mundo lá fora, esse mundo de agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu também tenho saudade do tempo despreocupado.