abril 18, 2008

o cego e o amor ou sobre a cegueira de ambos

O amor é cego e ainda assim não consegue ver com clareza as coisas e isso não é um equívoco de fala. Pessoas que apresentam alguma disfunção visual são mais perceptivas e sensíveis, conseguem enxergar com limpidez e profundidade não comuns à maioria das pessoas com olhos sãos. Mas o amor é cego, condicionado, limitado, superficial, desprovido dos atributos comuns à cegueira. Não o amor-amor, mas esse amor que aprendemos a sentir e nomeá-lo de eterno e verdadeiro, ao mesmo tempo em que está preso a amarras mesquinhas, a dogmas superados. Amor de novela: difícil e fatigante por toda a vida, que se decide num final feliz, que só terá dado certo se existir um final feliz. Contraditório! Supor um final não significaria término? Onde fica o eterno? Que verdade está implicada nesse caleidoscópio de conceitos assimétricos, que buscam harmonia? O eterno está fora do tempo, não há princípio ou fim, nem marcação transversal. Talvez o amor seja o princípio, talvez seja o fim (leia-se finalidade), não sendo possível as duas propriedades, são excludentes, por isso vejo maior praticidade em compreendê-lo eterno. Eis que se lança outro impasse. Seres temporais, somos isso. Não visualizo o temporal detendo o eterno.

Mas não se trata de amargo ou peso desabrochados de mim. Hoje o dia está claro e leve e fresco e com cheiro doce de flor de primavera em manhã de domingo, e essas qualidades todas se refletem em cada gota do que sou, ou ainda posso crer que cada luz do dia seja reflexo da beleza que amanheceu em minha alma. Mas falo da alma como coisa originante, como parte de tudo, como primórdio e não como coisa esvoaçante, que pula de corpo em corpo, até um abrigo derradeiro, fora do corpo.

E já não me importa se esta é só mais uma teoria sobre a mutação rítmica do amor em meu pensamento. Ontem eu te amava, hoje sou quase o amor eternizado, hoje sou quase perfeição.

E o dia brilha. Lá fora e aqui dentro, no peito!

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