fevereiro 06, 2008

eu e a esperança de óculos

sou um pedaço de vida que se move frágil e lentamente. Em dias de verão, derreto. Partes se desprendem e me abandonam. No inverno, sinto falta de braços que amei, de abraços que amo. Parece pragmático e essa é uma boa palavra neste momento. Braços pragmáticos! Não há nada de romântico nisso. Apenas enfatizo que braços são para abraço e que invernos os tornam imprescindíveis.

Mas nem é inverno e mesmo que fosse, nesta cidade, o que diferencia o inverno do verão está no comprimento da manga da blusa do trabalho e no cobertor que amanhece desarrumado ao lado, ao invés de atingido pela indiferença que o calor desperta, em detrimento a ventiladores e condicionadores de ar.

A madrugada consome meus nervos e hábitos. 1h: desligo a luminária e fecho o livro; 1h15min: acendo a luz e abro o livro; 1h38min, fecho o livro e espero o sono não chegar para reabri-lo às 2h. Dez minutos mais tarde levanto, geladeira: água; banheiro: espelho. 2h20: fecho o livro e desligo a luz; 3h: acendo os olhos, ligo o livro, abro a luz; 3h27min: apago o livro, fecho a luz e desligo os olhos. A noite dorme junto comigo! Necessariamente nessa ordem.

Sou um pedaço de vida que se move ágil e ferozmente. Em dias como hoje, esqueço a hora e finjo que estou na minha casa, no campo, com carneiros e cabras pastando e sigo plantando meus aboios urbanos e pingando colírio na esperança.

Um comentário:

Anônimo disse...

Há muito tempo venho procurando coisas boas pra ler, mas meu "sensor de leitura" tem ficado cada dia mais, digamos, sensível; mas acredite que seus escritos são exatamente o que eu gostaria de degustar nesse exato momento.
E digo mais! Obras como essas não são dignas de ficar em gavetas esperando pelo amarelado do tempo.