o dia floresce a cada novo momento. Ando sem pressa, sem relógio, motivo de insônia. Esqueço o tempo, compassado em seus ponteiros, mundano e inacabado, e me vejo atemporal. Esqueço a ironia e desprezo que se derramam pelas calçadas e atropelam os transeuntes que seguem displicentes. Vou-me embora no passo que cabe entre o meu espaço e o calcanhar seguinte, minimizando os danos, escorregando entre o gesto que entra e sai e desiste de ir ao destino, como a voz, que congela antes dos lábios e se dilui em pensamento mudo.
A presença que busco é esta: eu aqui, neste momento. Esqueço presenças passadas: pretérito perfeito! Exercício cotidiano, praticado até que chegue o cansaço, que o sono apareça, sem peso ou presságios. Apenas fechar os olhos e permitir que a noite siga seu curso e se dissolva ao sol de um outro dia, novo e grave.
Sem ponteiros, mas eis que surgem novos chicotes, ou seriam quixotes (?) sem dulcinéias, sem sanchos, sem ideais, mas com uma certa insanidade poética que desperta o olhar para o meio interno, onde se desenham as emoções, onde se desenrolam os desejos. E se lança uma realidade planejada em tempo algum, podendo, em razão disto, tornar-se imparcial e objetiva, provocando a necessidade de uma nova dama del Toboso ou um novo fiel escudeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário