fevereiro 12, 2008

a dama 'del Toboso'

o dia floresce a cada novo momento. Ando sem pressa, sem relógio, motivo de insônia. Esqueço o tempo, compassado em seus ponteiros, mundano e inacabado, e me vejo atemporal. Esqueço a ironia e desprezo que se derramam pelas calçadas e atropelam os transeuntes que seguem displicentes. Vou-me embora no passo que cabe entre o meu espaço e o calcanhar seguinte, minimizando os danos, escorregando entre o gesto que entra e sai e desiste de ir ao destino, como a voz, que congela antes dos lábios e se dilui em pensamento mudo.

A presença que busco é esta: eu aqui, neste momento. Esqueço presenças passadas: pretérito perfeito! Exercício cotidiano, praticado até que chegue o cansaço, que o sono apareça, sem peso ou presságios. Apenas fechar os olhos e permitir que a noite siga seu curso e se dissolva ao sol de um outro dia, novo e grave.

Sem ponteiros, mas eis que surgem novos chicotes, ou seriam quixotes (?) sem dulcinéias, sem sanchos, sem ideais, mas com uma certa insanidade poética que desperta o olhar para o meio interno, onde se desenham as emoções, onde se desenrolam os desejos. E se lança uma realidade planejada em tempo algum, podendo, em razão disto, tornar-se imparcial e objetiva, provocando a necessidade de uma nova dama del Toboso ou um novo fiel escudeiro.

Por onde entra e sai o que sou? Em que espaço surge a definição e determinação do que compreendo como eu? Cavaleiro pensante sem respostas ou com respostas errantes. Não adianta fugir dos ponteiros, eles continuarão em espera caminhada, sendo ou não no mesmo ritmo da que executo. Atemporal no percurso. Acrônica no espaço. Pontual nos sentidos: que horas são?

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