março 11, 2007

posse é peso

O que significa ser do outro? Dizemos a todo o tempo ‘sou teu’, ‘sou tua’. Pobre de nós. Ninguém quer ser pertencido e mais que isso ninguém quer ser dono. Dá trabalho administrar a posse. Queremos mesmo liberdade. Mas, paradoxalmente, a liberdade nos permite dizer ‘sou teu’, ‘sou tua’. Ainda assim é possível que o outro, detentor dos códigos de acesso, não queira a doação. Acredito que tenha relação com o medo de sentir visto de perto, de ser descoberto.

O amor é piegas, repetitivo, insistente mesmo. Alguns amam dando ainda mais ênfase a essas características (tantas vezes me vejo fazendo parte desse seleto grupo de pieguice, insistência, repetição). Por segundos, os donos desse comportamento se chamam à razão. Inútil! Vêem-se loucos fora desse doar-se sem fim.

‘A lua é sua. Vênus é sua. O vento que te acaricia sou eu. Meus pensamentos são seus...’ Ofertar essas coisas evidenciam o nosso deslumbramento e perda de realidade. Será que antibiótico cura? Alguém conhece algum chá qualquer que alivie o sintoma? Já seria suficiente o alívio sintomático dessa coisa de ir e se dar. Daria chance para o outro se recompor, desintoxicar-se de nós insistentes. Talvez plantássemos até um pouco de saudade em seus corações. Mas não sei se queria tomar desse chá. Vai que ele traz algum efeito colateral, como auto-suficiência, independência, desapego? Como seria amar sem dizer ‘eu te amo’ cem vezes por fala? Não! Tudo bem. A lua continua sendo sua. Quando houver nuvens brancas desenhadas serão suas, até o dia que eu decida não mais ofertá-las.

Confuso mesmo. Entendo o não querer ser possuidor da coisa amada ou da coisa que diz 'eu amo'. Afinal, ninguém nunca guardou a lua, uma noite que seja, no teto do seu quarto... ‘pronto, hoje a lua que você me deu está comigo.’ Esquisito isso. E o vento? Coisa mais sem propósito amar assim. ‘Meu coração é teu...’ e se ele parar, alguém o colocaria no formol e o manteria ali ao lado? ‘Ah, meu doce coração... saudades do resto que te acompanhava.’

Mas amamos assim. Buscamos nessas coisas escorregadias e inalcançáveis provar que é algo grande o que sentimos. Tentamos provar com o imaginário algo que garantimos ser real, palpável. Talvez seja o amor o próprio imaginário e, assim sendo, vai ter o valor que cada amante o oferecer. Há alguns, como eu, que sofremos com o peso que damos ao nosso amor e, por vezes, não conseguimos sequer erguê-lo. Então o amor – piegas, repetitivo e insistente – torna-se também opressivo, fazendo com que o outro o descarte. Ninguém quer fardos. Por isso ninguém quer posse. Posse é peso.

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