março 12, 2007

a medida exata

Cecília Meireles, entre tantos poetas que me inquietam o espírito, sempre me acompanhou. Mas hoje ela passou o dia no meu pensamento. Precisei revisitá-la, pois não conseguia parar de repetir esse trecho de guitarra: a maior pena que eu tenho, punhal de prata, não é de me ver morrendo, mas de saber quem me mata.

Hoje foi um dia atípico. Vivi essa tristeza de saber quem me mata. Engraçado isso de nos permitirmos morrer de amor, quando de fato não morremos nada. Mas essa dor extenuante de punhal atravessando o peito, dor física mesmo, é como morrer. Meu punhal tem a medida exata, com uma letra e várias datas. Lembro de todas. Datas às vezes não são celebradas. Podem passar desapercebidas. Mas sempre gostei de lembrar e falar e festejar até a exaustão todas as que se tornaram importantes. E hoje é dia 11, quase 12. Essa é uma data que vem sendo celebrada há pouco. É essa exata transição – de 11 a 12 – que me desassossega. Em breve será um ano a ser registrado no punhal. Como esquecer? Não é vontade também esquecer. Desejo, ainda que remeta a alguma dor, manter acesa essa lembrança de datas que impuseram um risco na história: antes e depois de.

Tenho péssima memória fotográfica. Tudo bem, o teu rosto que preciso, foi registrado de todas e tantas formas que é nem Sir Alzheimer me fará esquecê-lo. E minhas memórias de todas as datas são protagonizadas com esse rosto indelével. Então tenho um diário permanente, como o diário de uma paixão. Posso contar cada evento e vou registrando-os nesse punhal. Acho que é ele que me mantém desperta.

Punhal de prata já eras,
punhal de prata!
Nem foste tu que fizeste
a minha mão insensata.

Vi-te brilhar entre as pedras,
punhal de prata!
- No cabo, flores abertas,
no gume, a medida exata,

exata, a medida certa,
punhal de prata,
para atravessar-me o peito
com uma letra e uma data.

A maior pena que eu tenho,
punhal de prata,
não é de me ver morrendo,
mas de saber quem me mata.

guitarra, cecília meireles

Então é isso, punhal de prata, se não tivesses desenhado essa letra, nem essa data, não teria a dor de saber quem me mata.

Nenhum comentário: