o coração batendo dentro do peito, outro batendo na porta da casa. Silêncio de pássaros, vozes do vento, passos se afastando. E fico pensando quantas vezes precisei justificar por refazer o discurso, por pensar diferente sobre um mesmo fato. Regra geral espera-se que decisões tomadas, ideais estabelecidos, pensamentos elaborados solidifiquem-se, perpetuem-se em bronze. Alegra-me poder pensar diferente sobre a mesma coisa, fico feliz por não emoldurá-la, nem exibi-la como minha verdade absoluta.
Nem sempre é fácil. Algum indicador, muitas vezes o meu, aponta e condena esta flexibilidade, pois é mais fácil ser compreendida como inconstância, instabilidade, incoerência, dualidade perniciosa. Mas, claro, não falo aqui da possibilidade de mudança segundo a conveniência, seria muito prático. Falo da beleza de poder olhar várias vezes a mesma coisa e vê-la como não sendo mais a mesma, como, em verdade, não é, assim como o observador se tornou outro.
Minha alma é nova, meus medos dormem. Em um dia chegamos, no outro já não nos sabemos onde. Poderia dizer que no outro dia partimos. Mas paro, pois o que define os dois lados da viagem? Essencial é que mesmo que nem sempre o céu esteja descoberto e nem sempre esteja clara toda a beleza do caminho, que se olhe com cuidado, pois está tudo lá, tudo ao alcance. Além disso, se há neblina, ela pode ser encantadora.
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