janeiro 03, 2008

anicca*

tudo é impermanência!

Ainda não sabia disso, não dessa forma tão intempestiva, quando adotei por alcunha esta singela palavra: Anica, agora retificada a Anicca. É preciso atentar ao que falamos, ao que pensamos, ao que queremos: quase sempre se transforma em fato, ainda que etéreo. E me vejo inconstante, instável.

E quis experimentar um amor eterno. Talvez o problema relacione-se à temporalidade de nós mesmos. Falíveis, dados a flacidez e a cabelos brancos (no meu caso, digo, no caso dos cabelos, quase todos despontaram no ano recém findado). Queiramos ou não, as portas aos poucos se abrem. Prenúncio de passagem. Prenúncio de novo deslocamento. Mas ouvi dizer que a alma é eterna e acreditei no que ouvi. Ouvi dizer que a alma é quem ama, acreditei novamente. Então não é de todo loucura quando, diante de outra alma, que nos trouxe encantamento, fazer a promessa de amor eterno. Muito menos será loucura acreditar que isso é possível. Tudo é impermanência, mas, em essência, continuamos.

E quis experimentar um amor eterno. Talvez o problema relacione-se ao termo "experimentar". Como experimentar algo que, afervoradamente, já se desejava pra sempre, já era concebido e ansiado e sabido como infindável? Anicca me caiu bem. Vestiu minha efemeridade nos dias. Mas ninguém poderá destituir o que em mim é eterno.

Nesse momento, relembro os dias que são para ser relembrados, não os dias, os fatos nos dias. Os não merecedores de memória encaixotei-os num porão inacessível aos pensamentos cotidianos, para que não poluam a imagem mais linda que preservo em cores e gestos e sons. Se o beijo é dado pela alma, sendo a boca mero instrumento, devo ousar garantir que minha alma permanece sendo beijada pela tua, essas nossas partes eternas, onde tudo é impermanência.


* lê-se ánitcha

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