setembro 03, 2008

para a flor sem nome

outro dia, pensado nas realidades últimas, reabri o calendário das ilusões perdidas e me pus no exercício de examiná-las sob a ótica da indulgência. Havia escritos sem data, sem pé, sem cabeça, sem corpo, sem corpus, sem categorias, sem referências. Escritos imprecisos, como tudo que se registra em folhas flutuantes, como asas de Ícaro, como flor de Lis. Embora rara, havia consistência em alguns devaneios. Fabriquei memórias que se projetaram numa expectativa futurista, num delírio de tornar-se, de vir-a-ser de novo um presente convicto. Desenhei sorrisos e bocas e pernas e braços e sonhos. Esculpi metáforas e ironias e pus-me a rir da idiotia que se apodera dos que se supõem sanos. Redijo, redigo e represento toda atrocidade despejada e já não a vejo atroz, foi passageira, como a lucidez que re-pensa a realidade posta.

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