setembro 20, 2008

o ser amoroso

é possível que o amor resulte inútil, é possível que jamais se encontre qualquer relação de propósito na contemplação amorosa ou na ação do amor, mas ama-se ainda assim. Busca-se as chaves das entranhas resguardas, vigiadas e dedica-se minuciosa e ostensivamente ao desvelar desse sentimento métrico e disforme, que a tudo confere sentido e gostos diferentes. Mas à pergunta “quem é o amor?”, abdico da resposta, mesmo porque se pergunto "quem", é por supor ser alguém. Então talvez a melhor pergunta fosse “QUE é amor?” e me convenço de que especulações teóricas desse tipo não atravancam, nem contribuem para o amar, para o ser/ saber-se amado. Por isso entendo o desvelar amoroso, como o desvelar do sentir, do sentimento, como a percepção do que resulta desse ser, e não como compreensão do que ele é. O beijo que arrepia a pele, o olhar compassivo, o gesto que acaricia, o corpo que pulsa, a fala que diz, o atribuir da beleza, tudo resulta, tudo são expressões passíveis de identificação da faculdade de amar ou do amor puro. Não condeno, porém, se um ou outro, ou muitos, ou todos aplicam o conceito de amor a esses instantes vividos, isso não é um mal, pois de fato se não é o amor em si, mas é, sem dúvidas - enraizadas ou fugidias - a forma mais aproximada de reconhecimento disto que nos unge.

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