fevereiro 21, 2007

outono (reeditado)

São quatro horas da manhã. Vinte e três de abril. Outono teimoso. Calor intenso. Tempo abafado. Chuvas escassas. Quarto trancado. Luzes acesas. Som de ventilador. Relógio de cabeceira. Lanterna pra proteção. Abajur apagado. Livros à mão. Caneta bic. Caderno antigo. Caderno novo: compras recentes. Coração apressado. Batidas num compasso descompassado: tum tum piuí. Opa! Será o trem? Memorial de Buenos Aires. Memórias clandestinas. Coração apertado. Saudade espaçosa. Ocupa toda a casa. Ocupa ao Recife inteiro. Ocupa a uma vida inteira. Coração maltratado. Coração ingênuo. Coração deslumbrado. Deslumbra-me a tudo que me remete a ti. Remeto-me a ti. Aceita-me, meu amor. Aceita meu amor, meu prazer desmedido, minha fala titubeante, meu gesto incontido, minha prosa se querendo verso. São quatro horas e alguns minutos. Madrugada de domingo. Começa a chover. Paredes brancas. Noite preta. Combinação ímpar. Lua minguante. Amor crescente. Estrelas apagando. Vênus acendendo. Cecília Meireles. Florbela Espanca. Maiakovski. Para viver um grande amor: vinho, madrugada, poesia, velas trêmulas, flores e pétalas, café fresco, sorvete de morango, licor de amarula, chuva no telhado, frio e edredom, filme antigo, música por Bethânia, jantar por tuas mãos, café na padaria, amor de madrugada, dormir por todo dia, dormir enlaçado, proteger o sono, beijo no pescoço, mãos nas mãos, comprar livro, ler livro, dedicar livro, rir do riso, acalentar no choro, brigar pra fazer as pazes, sol e mar, água fresca, banho a dois, água morna, sessão coruja, beijo roubado. Para viver um grande amor: você e eu.

Recife,
23 de abril de 2006
Quatro horas e dezoito minutos

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