fevereiro 22, 2007

segundo dia

Busco um espaço na casa que consiga suportar minha inquietude. O quarto, cheirando a deserto, por demais inóspito, expulsa-me pelo corredor. Paro frente à janela. Aquela da qual enxergo melhor o rio, que rasga lentamente a cidade. Encontro no canto da sala um tímido lugar que se mostra acolhedor. Aproximo-me com cuidado. Descalço. Busco sentar-me sem ruídos. Tento não acordar a poeira. Ao lado, alguns livros em desalinho. Relembram que o estado atual de inquietude não é recente. Meio sem olhar, escolho qualquer um. Afinal, qualquer um deles me dirá muito pouco, de ante-mão sei que não terei concentração suficiente para percorrê-lo com a atenção que merece. Consigo dez minutos nesse lugar, quando, num impulso, sou levado a buscar um café. Almejo mais quinze minutos, onde a espera pela fervura da água poderá me dispersar, seguido daquele cheiro único, de frescor da manhã ou de final de dia, que para mim pouco importa. O som da água no fundo da cafeteira traz uma certa calmaria. Observo como ela se acomoda. Devagar busco o pó (sem açúcar). Sinto o cheiro, que me traga por alguns instantes, mas inadvertidamente, me remete a você, mais uma vez. Outra vez. Como cada coisa tem feito nos últimos dias. A caneca que procuro para abrigar esse negro amor, já fora desapercebida... Teu rosto, tuas mãos, teu cheiro (que desconheço) é que impregnam a tudo. Quase consegui quinze minutos de abstração.

num dia perdido num janeiro de 2006

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