fevereiro 20, 2009

carnaval

as ruas estão de novo num colorido vibrante. Palhaços, pierrôs, arlequins. Maracatus com seus oxuns, oxalás, reis e rainhas. Passistas, frevos, blocos de rua e de paus e cordas. Tambores e clarins. Beijos, sorrisos, abraços, desejos. Olhares libertos, percorrendo os becos, as saias, os amores. Nenhuma alusão às tarefas dos escritórios, do comércio, da casa. Labuta e dores esquecidas, trancadas no porão da memória. Ou talvez dores esquecidas por não existirem efetivamente, por serem frutos da insaciável fome de querer sempre além.

O carnaval não requer expectativas, não requer sonhos, não requer desejos. Saímos às ruas de corações limpos, de alma aberta, com olhos sorrindo. O que acontecer será festa, será folia. Não há exigência de fantasia, nem tampouco de coreografia. Veste-se e dança-se sem medos de reprovações, de críticas. Aliás, quanto mais fora do padrão, mais dentro da festa você estará.

Os casais se enamoram de novo, renovam as juras de amor, alimentam a alma de paixão, jovens e velhos, brancos e negros, homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres, não há distinção, nem preconceitos. Parece que se faz um acordo silencioso de paz e perdão. As brigas são rejeitadas e banidas. Ninguém entende como buscar tormento no meio de tanta alegria. Surge um apaziguador em cada um de nós.

Mas eis que essa chama finda. Nas ruas, o movimento da multidão sem pressa dá lugar ao caos dos motores e da fumaça; nos corações, o festejo e o brilho dão lugar à impaciência, à ansiedade, ao medo; nas casas, os sorrisos são substituídos pelas novelas, pelas reclamações. Guardamos uma alma livre, tornamo-nos prisioneiros da nossa incapacidade de reconhecer que a leveza da folia representa a leveza que existe em cada um de nós. Tornamo-nos prisioneiros de nós mesmos, prisioneiros da incompetência nossa em perceber que a vida não precisa de cenários e fantasia.

Que sejam plenos os quatro dias do ano em que saímos fantasiados de nós mesmos.

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