outubro 25, 2007

fome de amor

a maioria dos lugares por onde passamos e que neles há escritos, estes, infinitas vezes, fazem considerações sobre o amor ou ao ato de amar, ou à coisa amada: a personificação do sentimento. Quase todos prolixos, às vezes com relampejos de erudição. Mas o amor é prolixo e pontual; erudito, mas simples também. Paradoxo em si.

A luta diária é para prover o sustento do corpo e da alma. Salários pagam o pão nas suas mais variadas formas. Mas e o amor, como saciar nossa fome de amor, a sede por sermos amados? Salários não pagam o amor. Eis um item impagável, senhores. Guardem seus milhões! Amor é serenidade, simplicidade, altruísmo, devoção.

“Eu te amo!” Trezentos milissegundos depois de proferir esta fala, podemos ser arrebatados pela mais perfeita audição, o pão mais sublime para a alma: “eu também te amo”. Mas o amor não exige troca, nem poderia. E passamos os dias tentando controlar ou satisfazer o apetite: olho na balança, olho no relógio, tempo apressado. Passamos os dias tentando controlar a ansiedade para amar ou para sentirmo-nos amados: medo da rejeição, medo da solidão.

E matamos a fome. Matamos também o amor. Queremos trocas e certezas. Achamos que vamos morrer de inanição: o amor está escasso. O amor se torna insuficiente. Privação de amor. Será mesmo? Será que não nos boicotamos vez ou outra? Por que tantas vezes nos permitimos à reclusão e não buscamos alimentar ao amor, ao invés de colocarmo-nos na posição passiva de sermos supridos por ele? E tem sido essa a minha mais importante tarefa dos dias, alimentar a esse amor. Tratá-lo com atenção. Lisonjeá-lo sem pieguice, embora compreenda a tênue linha entre esta e o amor.

Não tenho fome do teu amor, ele me sacia. Tenho fome do teu sorriso, da tua boca, que sorri e beija. Tenho fome dos teus braços que enlaçam meu corpo. Tenho fome da tua voz dizendo eu te amo. Mas espero. Olho a lua boiando lá fora e exercito o altruísmo. Apenas deixo que saibas que, de minha parte, ela é tua. Não precisas dar-me nenhuma estrela por isso. Pega essa estrela e enfeita o nosso amor. Mima-o, pra que ele seja sempre o que é hoje: um amor puro e livre.

Mas ninguém nunca imagina que um amor assim possa acontecer, mas acontece e para nós aconteceu. Agora quero ficar com ele pra sempre. Quero amá-lo do jeito que amo agora pra vida inteira. Se formos embora, perdemos tudo... não nos perca, não se desfaça de nós. Parece que o amor não segue expectativas, que é mistério puro e absoluto. Ainda assim, vamos regá-lo! Vamos rodeá-lo de cuidado e atenção e todos dirão que temos muita sorte.

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