setembro 28, 2012

fruta boa

saboroso é o amor, fruta boa
coração é o quintal da pessoa
é gostoso o nosso amor
renovado é o nosso amor
saboroso é o amor madurado de carinho

é pequeno o nosso amor, tão diário
é imenso o nosso amor, não eterno
é brinquedo o nosso amor, é mistério
coisa séria mais feliz dessa vida
Vida

milton nascimento

junho 29, 2012

Tantas coisas começam por acaso e terminam como um jogo, suponho que você achou graça de encontrar o desenho ao lado do seu, você atribuiu a uma coincidência ou a um capricho e só na segunda vez se deu conta de que era intencional e então você o olhou devagar, inclusive voltou mais tarde para olhá-lo de novo, tomando as precauções de sempre: a rua em seu momento mais solitário, nenhuma viatura nas esquinas próximas, aproximar-se com indiferença e nunca fitar os graffiti de frente, mas da outra calçada, ou de viés, fingindo interesse por uma vitrine ao lado, indo embora em seguida...

Júlio Cortázar

Alquimia

Hóstia branca das noites do sertão, tu és banhada com o sangue da solidão dos que alumias. És regada com a seca desta terra, que te presenteia céu desnudo. Hóstia sagrada, que clareia os caminhos, reluza em minha estrada pedregosa teu brilho ensolarado, rasga as trevas do meu silêncio, corrompe meus singelos deslumbres e empurra-os aos ventos. Hóstia de prata tão pura cadencia meus pensamentos e afasta de minhas mãos meus temores ímpios, minhas lágrimas impuras, minhas razões desvairadas. Hóstia do caduceu faça amargar em meus lábios palavras rotas, palavras roucas, palavras de fel. Branca e sagrada prata celeste, aplaca essa ira que em prantos incontidos se lançou na escuridão do mundo.

abril 21, 2012

Aflição

Vá, seja o que for. Mas, por favor, seja gente, seja competente, não olhe pra mim. Não sorria pra mim. Finja que é alegria esse seu desejo de sentir liberdade. Finja que é vaidade essa sua loucura de sair porta a fora. Finja que é poder me ver aos seus pés, finja que é devaneio e se sinta completa. Finja ser passatempo e me rotule de permanência. Finja que já foi e não volte aqui. Finja ser forte e sublime tudo que você poderia e lançou como poeira em ventania. Finja!

agosto 20, 2011

Oração

Tenho em tua casa meu santuário, em teu corpo, minhas relíquias, em teus gestos, meu ritual.

Nessa fé pagã surge a luz que alimenta minha vida e através dessa fé eu me refaço da fúria dos dias.

Não entendo outra religião, não creio em outras divindades.

É em tua homenagem que ergo minhas catedrais, onde proclamo teu lindo nome, mesmo que muitas vezes em vão.

É com base na tua força que rego os meus campos e, a partir deles, colho o pão de cada dia e encontro e bebo da seiva da vida.

Venha a mim todos os dias e me encha do teu amor e da tua alegria, pois sempre faço a tua vontade e tua vontade se conjuga a minha.

Perdoa as minhas pequenas bobagens. Perdoa, que são tão miudinhas. Além do que te perdôo por coisas que sequer imaginas que farás.

Nunca me deixes partir, não me jogues à tentação.
Livra-me do desamor, livra-me da solidão.

Amém

junho 15, 2011

Calor

A porta da cozinha é sempre uma porta aberta. Aqui, na cozinha, se aconchega e se dispersa. Entremeiam-se histórias, confidenciam-se histórias, segredos de alcova. Ao mesmo tempo, tudo se liberta, tudo que vai por dentro se expande e acha a porta da sala.

A chama acesa do fogão aquece a água para o café, aquece a comida, aquece os amigos, aquece o amor. Aquece o que sucede a bebida, mesmo que resfriada.
Na cozinha, à mesa, se põe, além de pratos, talheres e comida, a vida, que caminha de um jeito próximo e íntimo. Segura, num espaço, cuja porta aberta, faz escoar o que se chega, o que se vai, o que se extirpa, o que se agrega.

A cozinha, esse espaço onde sabores e gestos se depuram.

abril 07, 2011

O céu

Que céu existiu em sonho, sem antes ser sentido e examinado? Que céu idealizado não se desfez pelo toque sutil e real da presença do mundo?
Há um céu em cada um de nós. Para achá-lo, tomamos como referência o inferno que construímos ao redor, todos os dias.
Meu céu é a fuga utópica da realidade desse amor que se constrói em agonia, em berço esplêndido e ironia.

outono de 2008
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dezembro 12, 2010

eu não sei aonde você expressa seus traumas e seus medos, visto que você é perfeita. Os meus estão no meu corpo e nos meus vícios.